Hoje é um hábito visto como um pouco ultrapassado e sem higiene, mas a realidade dos palitos de dentes já foi outra. Mesmo que condenado por algumas pessoas, outras, após uma refeição, preferem uma “palitada” nos dentes ao uso discreto do bom, e higiênico, fio-dental. Bem, mesmo que alguns não gostem, o fato é que a função original de um palito de dentes (e o nome mesmo já diz) não é espetar azeitonas, queijos e todos aqueles componentes das famosas “tábuas de frios”. Eles também não têm o propósito exclusivo de serem “miniesculpidos” como mostramos nas imagens que você pode ver aqui. Mas você sabe a história que envolve este item tão controverso?
Bom, como antecipamos no primeiro parágrafo, os palitos de dentes já tiveram uma realidade muito melhor do que a atual. Além de fazerem parte de um dos hábitos mais antigos da humanidade, pois, em um passado não tão distante, eles eram itens de extremo luxo e importância, o material de composição utilizado não era madeira e o formato não era simples como o visto atualmente.
O hábito mais antigo e a evolução dos materiais
De acordo com algumas descobertas, os palitos de dentes integram as sociedades desde a época dos neandertais, os ancestrais da raça humana. Extintos há aproximadamente 29 mil anos, fósseis dos dentes de seres neandertais foram encontrados com pequenas e inconfundíveis marcas de palitos. Acredita-se que os primeiros palitos de dentes da terra tenham sido produzidos a partir de talos de grama rígida.

Esse modelo de palito de dente “caseiro” acabou dando lugar a outro, com formatos diferentes, trabalhados em prata ou marfim. O trabalho nesses materiais resultava em palitos longos e com formatos peculiares, como o de sereias e de pássaros íbis. Todo o trabalho que envolvia esses pequenos itens, bem como o material utilizado, fazia com que ele fosse um item de luxo, requintado e não descartável.
Segundo Henryá, havia negócios em torno desse mercado em meados do século XVI, quando a principal rede de fabricação de palitos de dente ficava no Vale do rio Mondego, em Portugal. Nessa época os palitos eram produzidos com madeira de laranjeira e foram levados ao mundo com as colonizações portuguesas, chegando ao Brasil e se espalhando pelo continente. Nos Estados Unidos, os palitos de dentes chegaram no século XIX, a partir do interesse de um americano da cidade de Boston, chamado Charles Forster, de montar um negócio.

Foi Forster que concebeu o formato de palito atual, produzido em larga escala, descartável, composto de madeira, resistente e flexível. Ele estabeleceu o negócio, produzindo grandes quantidades e vendendo milhões de unidades por ano.
Como Forster revolucionou o mercado dos palitos de dentes
O segredo de Forster foi conseguir desenvolver uma máquina para produção em larga escala e encontrar o tipo de madeira ideal para chegar ao produto que queria. Desde os seus primeiros contatos com esses itens, Forster já tinha em mente uma nova concepção do produto. Para construir a máquina, ele recorreu ao sistema de produção do setor de calçados e contou a ajuda de um mecânico chamado Charles Freeman.

Com a máquina pronta, os dois passaram a testar diferentes tipos de madeira e constataram que a mais adequada para obter o palito ideal era o vidoeiro-branco. Com essa matéria-prima, o produto final ficava macio e maleável, além de apresentar um odor agradável. A árvore era abundante na região do estado de Maine. Logo foi lá, mais precisamente a cidade de Strong, que Forster escolheu como sede para a construção da sua primeira fábrica de palitos de dentes. A grande produção aconteceu a partir de 1887.
Porém, a construção da máquina e da fábrica não eram suficientes para que o público aderisse à nova tendência de palitos de dentes. Foi aí que Forster decidiu criar demanda para o produto. Contratou várias pessoas para irem a restaurantes, bares, lojas e supermercados a fim de pedir pelo seu produto. Aos poucos as pessoas aderiram ao palito de dentes de madeira da forma como ele é atualmente, sendo que o material também chegou a significar status, quando pessoas foram colocadas em frente a hotéis e restaurantes finos com palitos na boca para sugerir que haviam acabado de comer nos locais.
Logo, mesmo com a produção alcançando 500 milhões de palitos por ano, a demanda não era vencida, despertando o interesse de concorrentes na mesma região do estado de Maine. Nada que abalasse o sucesso de Forster até então.
A quebra do mercado estabelecido
O auge dos palitos de dentes aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial, quando Strong chegou a ser considerada a “Capital Mundial do Palito de Dentes” por ser o centro da produção do item. Porém, após a grande Guerra, com o advento dos fios de nylon e sua importação barata da China e do sudeste asiático, iniciou-se a derrocada do mercado dos palitos de dente. Complicando ainda mais a situação, o hábito de palitar os dentes na mesa passou a ser visto como algo ultrapassado: em média, 8 mil casos de pessoas se machucando com os palitos eram registrados por ano.

As vendas diminuíram drasticamente nos anos 1980 e, aos poucos, as fábricas de Maine foram fechando. A última a fechar foi justamente a Companhia de Manufatura Forster, encerrando as atividades em 2003. Atualmente nenhum palito de dente é fabricado em Strong, a antiga “Capital Mundial dos Palitos de Dentes”.
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