Você já ouviu falar a respeito de uns remedinhos mágicos capazes de aumentar a concentração, retenção, memória e energia das pessoas, fazendo com que elas tenham um melhor desempenho acadêmico e profissional?
Essa seria a promessa das “pílulas da inteligência” que, como você deve imaginar, estão se tornando pra lá de populares entre estudantes que estão se preparando para o vestibular ou concursos públicos, universitários e jovens profissionais.
Turbinando o cérebro
Na verdade, os medicamentos utilizados como “pílulas da inteligência” não foram originalmente desenvolvidos para turbinar o cérebro. Pesquisas apontaram que determinadas substâncias indicadas para tratar alguns problemas de sono, o transtorno de déficit de atenção e a hiperatividade podiam trazer benefícios para pessoas saudáveis.
Um estudo conduzido por cientistas das universidades de Oxford e de Harvard revelou, por exemplo, que o Stavigile — um medicamento baseado em uma substância chamada modafinil que é indicado para pessoas que sofrem de narcolepsia — favorece processos como o de tomada de decisões e de planejamento.
Outras pesquisas apontaram ainda que o modafinil, embora não tenha efeito significativo sobre os processos criativos, pode tornar os pensamentos mais flexíveis, assim como ajudar as pessoas a combinar informações e a lidar com situações novas. O melhor é que os cientistas concluíram que a substância faz tudo isso sem trazer problemas para pessoas saudáveis que queiram se beneficiar de seus surpreendentes efeitos.
Mais drogas
Ninguém sabe ao certo como o modafinil realmente funciona para quem — no fundo — não precisa dele, mas os cientistas descobriram que um de seus mecanismos de ação é o de estimular a liberação de histamina que, por sua vez, nos deixa mais alertas. O Stavigile “trabalha” ao contrário de muitos antialérgicos convencionais (os anti-histamínicos), que reduzem os níveis de histamina no organismo e têm como efeito colateral a sonolência.
Mas a coisa não parou na narcolepsia... Estudos revelaram que outros medicamentos, como a Ritalina, o Venvanse e o Concerta — indicados para controlar o transtorno de déficit de atenção —, também têm efeitos semelhantes ao Stavigile, só que atuando de maneira diferente no cérebro dos usuários. Nesse caso, as drogas provocam um aumento nos níveis de dopamina e noradrenalina, que são substâncias nos ajudam a nos manter concentrados e vigilantes.
Pílulas mágicas?
Segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Medicina de Volgograd, na Rússia, alunos que tomaram as pílulas da inteligência enquanto se preparavam para fazer exames apresentaram um desempenho até 8% superior nas provas. Outra pesquisa conduzida com universitários do curso de medicina de outra universidade apontou uma melhora significativa no desempenho cognitivo daqueles que estavam há muitas horas sem dormir.
Por outro lado, um novo estudo, realizado em 2014, revelou que o uso das pílulas mágicas deixou os estudantes mais lentos para tomar decisões. Sem falar que ainda faltam pesquisas que indiquem possíveis danos do uso em longo prazo para quem toma essas substâncias sem indicação médica. Assim, além da falta de informações conclusivas sobre a real eficácia dos medicamentos por pessoas saudáveis, existe um forte debate sobre a sua segurança.
Controvérsias
De um lado, alguns cientistas garantem que as drogas não trazem qualquer inconveniente à saúde, enquanto de outro, diversos pesquisadores alertam que o emprego indiscriminado pode trazer sérias consequências para os usuários. Para os defensores das “pílulas da inteligência”, os efeitos colaterais são parecidos com o que sentimos quando tomamos café demais, ou seja, um pouquinho de tremedeira e dores de estômago.
Entretanto, diversos médicos e especialistas alertam que os medicamentos devem ser prescritos exclusivamente para quem realmente precisa deles, e os pacientes devem receber o devido acompanhamento. Isso porque o uso contínuo dessas substâncias pode afetar os padrões de sono, desencadear quadros psicóticos, causar crises de pânico e de ansiedade, perda de apetite e problemas cardíacos, além de provocar a dependência física e psíquica.
O problema é que milhões de jovens e adultos — que não sofrem necessariamente de problemas para dormir ou de TDAH — estão tomando esses remédios para melhorar seu desempenho cognitivo e ignorando os riscos que o consumo indiscriminado pode oferecer. Só para você ter uma ideia, só aqui no Brasil ocorreu um aumento de 25% na venda desses medicamentos nos últimos cinco anos, e muita gente está abusando deles.
Outra questão preocupante é que, embora os medicamentos sejam de uso controlado, o que não faltam por aí são fóruns e blogs sobre o assunto — e que inclusive ensinam os interessados como adquirir as drogas através do mercado paralelo.
Competição desleal
O debate também começou a se estender à questão ética de se tomar os medicamentos para uma função diferente à que eles foram criados. Afinal, se sua eficácia como “turbinadoras” da mente for comprovada por novas pesquisas e os ensaios clínicos demonstrarem que seu uso é seguro, será que as pílulas da inteligência não darão início a uma guerra de produtividade no ambiente estudantil e profissional para ver quem apresenta o melhor desempenho?
Muitos especialistas que são contra o uso dos medicamentos para melhorar o desempenho cognitivo alegam que quem se torna mais produtivo, passa no vestibular ou em uma prova de concurso público graças a essas substâncias, tem vantagem sobre os demais e, sendo assim, está “roubando”.
Há inclusive quem acredite que as pílulas da inteligência funcionam para os estudantes e jovens profissionais da mesma forma que os anabolizantes funcionam para os atletas. Aliás, um pesquisador da Universidade de Sydney chegou a prever que, se a popularidade das substâncias continuar aumentando, é possível que no futuro os estudantes tenha que se submeter a exames antidoping antes de fazer suas provas. E você, caro leitor, o que acha?
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