Na última semana, o Ministro da Educação, Mendonça Filho, em entrevista à Rádio Jovem Pan, reiterou o discurso da nova presidenta do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, sobre as possíveis mudanças pelas quais o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passará em 2017 e não descartou a possibilidade de a realização das provas voltar a ser em apenas um dia e de a proposta de redação ser extinta (saiba mais).
Diferentemente de Maria Inês Fini, o motivo alegado por Mendonça Filho é o alto custo que a elaboração, a aplicação e a correção do Enem tem para o Ministério da Educação (MEC).
Em relação ao alto custo financeiro do Enem, especialmente no que diz respeito à prova de redação, é verdade que a correção, principalmente, é um processo caro, já que os corretores são selecionados e treinados antes de a correção efetiva começar e o número de profissionais envolvidos é muito grande, pois cada texto é corrigido, no mínimo, por dois corretores diferentes em uma correção às cegas. Além deles, há os corretores que corrigem as terceiras e quartas correções em casos de discrepância de nota, sem contar todo o trabalho de digitalização das provas para que os corretores trabalhem em suas casas, via internet. Apesar deste alto custo, pedagogicamente falando, em termos de uma avaliação de entrada de qualidade (vestibulares e concursos), a prova de redação é de extrema importância a fim de selecionar futuros estudantes de uma instituição de ensino em todos os níveis, diga-se de passagem. Por meio da prova de produção de texto avalia-se habilidades e competências em leitura e em escrita como localização, inferência, formulação de hipóteses, estabelecimento de relações, acesso ao conhecimento prévio e de mundo, coesão, coerência, construção de senso crítico, ortografia, concordância verbal e nominal, regência verbal, poder de síntese dentre tantas outras coisas. Em termos quantitativos, o Enem 2017 seria muito mais fácil de ser realizado para o Governo Federal se não houvesse a prova de redação, mas perderia, e muito, em qualidade se isso acontecesse. Novamente, o MEC mostra uma preocupação unicamente financeira e em resultados rápidos e quantitativos ao invés de se preocupar com resultados qualitativos, duradouros e de importância nacional em termos de leitura e de escrita. Infelizmente, tal corte, se ocorrer, estará em consonância com o teto de gastos que a PEC 241 – Proposta de Emenda Constitucional – estabelece, cortando investimentos maciços na educação do país. Sugerimos que, ao invés de acabar com a prova de redação do Enem, que os políticos busquem outras formas de economizar o dinheiro público, não votando aumento de seus próprios salários, cortando auxílios dos mais variados tipos, devolvendo todos os milhões de reais roubados pelos escândalos de corrupção, taxando grandes fortunas dentre outras medidas. Caso a prova de redação do Enem seja extinta em 2017, o Governo Federal estará provando, mais uma vez, o quanto pouco se importa com a educação deste país, o quanto pouco se importa com a alfabetização e a apropriação dos seus cidadãos da leitura e escrita da sua língua materna, o Português do Brasil. Será mais uma vergonha. *CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português e mestra em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC). **Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas! O post Em Defesa da Manutenção da Prova de Redação do Enem em 2017 apareceu primeiro no infoEnem. |
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
Em Defesa da Manutenção da Prova de Redação do Enem em 2017
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