quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Nº de denunciados no maior roubo a banco do país chega a 133 pessoas

Dinheiro recuperado não chega à metade do total.

Megafurto completa 10 anos nesta semana.

Marília CordeiroDo G1 CE
processos do bc na justiça federal (Foto: Gioras Xerez/G1)Processos do caso BC armazenados na
Justiça Federal (Foto: Gioras Xerez/G1)
Dez anos após o furto ao Banco Central em Fortaleza, a Justiça Federal no Cearácontabiliza 28 ações penais sobre o caso, 133 denunciados por envolvimento no crime e 94 réus condenados, sendo que 10 foram absolvidos pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5). Dos R$ 164,7 milhões roubados, a Polícia Federal estima que, no máximo, R$ 60 milhões foram recuperados, por meio da venda de bens dos participantes ou pelo resgate de quantias em espécie durante as investigações.
Na madrugada de 5 para 6 de agosto de 2005, ladrões entraram na caixa-forte do Banco Central por meio de um túnel e levaram mais de três toneladas em notas de R$ 50 passando por baixo de uma das mais movimentadas vias do Centro de Fortaleza, a Avenida Dom Manuel. O túnel partia de uma casa alugada pela quadrilha. O crime só foi descoberto no início do expediente da segunda-feira (8). A Polícia Federal considera o maior roubo a banco da história do país e o terceiro, no mundo.
juiz federal danilo fontenelle (Foto: Bruno Gomes/Agência Diário)Juiz federal Danilo Fontenelle condenou 94 réus
(Foto: Bruno Gomes/Agência Diário)
O núcleo que escavou o túnel ligando a casa ao banco não passou de 30 homens, no entanto, diversas outras formas de participação elevaram a quantidade de denunciados. “Toda a linha de investigação que o Ministério Público, Polícia Federal e Banco Central, como assistente de acusação, empreenderam foi para identificar quem financiou, quem executou o plano e quem posteriormente ajudou na lavagem do dinheiro. As investigações foram se densificando nesse aspecto, e ao longo do tempo, foram encontradas 133 pessoas, denunciadas em 27 ações penais’’, diz o juiz federal Danilo Fontenelle Sampaio, titular da 11ª vara da Justiça Federal no Ceará, responsável pelo julgamento do caso.
26 réus ainda não julgados
Foi na ‘’terceira fase’’ de participação, na lavagem do dinheiro, onde agiram os 26 réus que ainda não foram a julgamento. “Essas duas ações penais que envolvem esses réus se desenvolvem em outros estados. São pessoas que lavaram dinheiro. Se a pessoa compra uma fazenda em Tocantins, outra em Cuiabá, outra em Sinop, no Mato Grosso, toda a produção da prova é feita lá. Por isso que demora o julgamento desses 26 réus“, diz Fontenelle.  As duas ações são de 20 de fevereiro de 2008 e de 24 de abril do mesmo anos e tramitam no Pará, Paraíba, Rio Grande do Norte e em Mato Grosso do Sul. Interrogatórios, oitiva de testemunhas e intimações de réus e advogados ocorreram, na maioria, nestes estados.
Absolvições
A Justiça Federal no Ceará absolveu apenas seis acusados. Outros 10 foram inocentados, na instância superior, no TRF-5, entre eles, os donos de uma concessionária de carros de Fortaleza que venderam 11 veículos para membros da quadrilha. Em seis desses veículos transportados em uma carreta interceptada em Minas Gerais foi  encontrado dinheiro retirado do BC, dias após o roubo. Nesse flagrante, foi preso o primeiro suspeito.
Apontado como mentor do crime, Antônio Jussivan Alves dos Santos, o "Alemão", foi sentenciado a 49 anos e dois meses em 1º grau e teve pena reformada para menos pelo TRF-5 - como quase todos os condenados -, sendo apenado a 35 anos e 10 meses de prisão. Ele está preso em São Paulo. Cearense a cidade de Boa Viagem, mas radicado em São Paulo, Alemão recebeu informações sobre a caixa forte do banco de dois seguranças que haviam trabalhado em transporte de valores e conheciam o local. A partir daí, junto com um traficante chamado Fernandinho, arregimentou comparsas para executar o furto.
Menos de um ano depois do crime, já eram quatro os casos de sequestros de pessoas ligadas aos participantes. Um policial civil foi condenado por sequestrar em São Paulo um dos procurados pelo roubo recebendo R$ 350 mil para liberá-lo, segundo denúncia do Ministério Público.
Pelo menos dois advogados que começaram defendendo envolvidos e terminaram como réus foram denunciados, um deles foi absolvido. “Eles receberam honorários e segundo a denúncia e o meu entendimento sabiam que o dinheiro era proveniente do furto”, diz Fontenelle. Dois acusados morreram ao longo das investigações e sete estão foragidos.
Ao menos 30 pessoas chegaram a ser presas pelo furto, mas parte pode já estar solta por fatores como a passagem para o regime aberto (progressão), por exemplo.
Eram pessoas em termos de estudo muito simples. Muito ousados mas não tinham desenvoltura.
Juiz Danilo Fontenelle, que ficou frente a frente com os acusados
Interrogatórios
O juiz lembra a mudança no funcionamento da 11ª vara no período mais intenso de  interrogatórios. A segurança foi reforçada já que a polícia já tinha informações de que parte dos envolvidos eram financiados ou revertiam dinheiro para a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).  “A polícia não descartou nenhuma hipótese, inclusive a de um resgate dos presos e adotou várias medidas de segurança bem interessantes para o transporte dos presos e para  permanência deles aqui [no prédio da Justiça Federal no Ceará]’’, afirma Fontenelle.
Mudanças na segurança e na rotina de trabalho.  “As audiências começavam entre 8 horas e 8h30 da manhã. Eu e os funcionários da vara chegávamos por volta de 6h30  e a policia fazia uma varredura do prédio para saber se tinha bomba ou alguma tentativa de sabotagem, para verificar qualquer coisa desse tipo, preservar o ambiente e as pessoas mais ninguém nunca encontrou nada’’, diz. “As audiências eram ininterruptas. Não paravam nem para almoço. Chegamos a 10, 11 horas direto’’, conta o magistrado, ressaltando que os demais processos relativos a outros casos continuaram correndo.
sala onde foram feitas as audiências do caso BC (Foto: G1)Sala onde foram feitas as audiências do caso BC.
Cortina era suspensa e testemunhas reconheciam
acusados que estavam atrás da Vidraça
(Foto: Marília Cordeiro/G1)
O juiz também recorda como foi feita a preparação das salas para que o reconhecimento dos acusados fosse realizado nas dependências da 11ª vara, no Bairro Aldeota, em Fortaleza. ‘’As audiências de reconhecimento têm toda uma formalidade (....), o preso tem de ficar em uma sala para que possa ser visto mas ele não pode ver a testemunha. Tem de ficar do lado de pessoas fisicamente parecidas com ele para que a testemunha o identifique (....) na sala de audiência, o vidro atrás é espelhado, então eles ficavam na sala de assessoria [espaço ao lado da sala principal separada por divisória com vidraça], a gente subia a cortina, iluminava mais essa sala aqui, escurecia a sala de lá e fazia o reconhecimento’’, relembra o juiz. “Um dos primeiros acusados, o “véio Davi’’, que tinha de 40 para 50 anos, pintava o cabelo e quando ele veio ser reconhecido estava com a barba e o bigode completamente brancos mas mesmo assim as testemunhas o reconheceram’’, diz..
Bens
O dinheiro se alastrou por dezenas de cidades brasileiras, na forma de carros, fazendas, joias, casas, entre outros bens. Foram necessários setenta e sete leilões entre 2007 e 2013 para converter 218 lotes de bens apreendidos em pouco mais de R$ 12,5 milhões. O dinheiro foi restituído aos cofres do banco.  Uma casa com piscina em um condomínio na cidade de Barueri (SP) alcançou lance de R$ 716,7 mil. É o bem de maior valor de venda de todos os leilões. Os bens com menor lance final fora aparelhos celulares localizados em Fortaleza arrematados em conjunto por R$ 7,40.
Motos aquáticas, TVs, motocicletas, lanchas, relógio de pulso também estão na lista de bens comprados com dinheiro do furto. A maioria dos bens foi encontrada e leiloada nas cidades de São Paulo e Fortaleza, no entanto, há imóveis e veículos localizados em diversos pontos do país como Sinop (MT), Parnaíba (PI) , Brasília (DF), Recife (PE), Paraguaçu (MG), Piun (TO), Natal (RN), São Bernardo do Campo (SP), Boa Viagem (CE), Alto Alegre (MA), Batayporã (MS), Vespasiano (MG), Nova Andradina (MS), Mossoró (RN), Cocalzinho de Goiás (GO), São Gonçalo  do Amarante (RN), Itanhaém (SP), Icapuí (CE), Pirituba (SP), Cuiabá (MT), Bertioga (SP), São Miguel (RN), Barueri (SP), Maracanaú (CE), Nova Canaã do Norte (MT), João Pessoa (PB) e Juazeiro do Norte (CE). Em Alagoinha (PB), a Justiça leiloou os únicos animais da lista, 147 cabeças de gado, cavalos e burros.
"Eram pessoas em termos de estudo muito simples. Muito ousados mas não tem uma desenvoltura. Como se fala, 'o cara está com  R$ 10 milhões então ele vai aplicar na bolsa'.Não, ele não tem a menor condição disso. A mentalidade deles foi essa, de comprar veículo, fazendas'', diz Fontenelle.
arte BC (Foto: Sebastiao Mota/G1)

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