A Edícula da Tumba, na Basílica do Santo Sepulcro, está sendo restaurada – THOMAS COEX / AFP
Como parte de um projeto de restauração, pesquisadores removeram pela primeira vez em séculos uma placa de mármore na mais interna câmara da tumba onde, segundo a tradição cristão, Jesus Cristo teria sido enterrado. Trata-se de um esforço para alcançar a superfície original onde o corpo de Jesus teria sido colocado, que está selado pelo menos desde 1.555.
Até então, historiadores acreditavam que a caverna original, identificada alguns séculos após a morte de Jesus como o túmulo do salvador para os cristãos, teria sido destruída com o tempo. Mas agora arqueólogos que acompanham as equipes de restauração dizem que testes com radares de penetração determinaram que as paredes da caverna estão de pé, a seis metros de profundidade e conectadas com o chão de pedra, embaixo de painéis de mármore no centro da Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém.
— O que foi encontrado é surpreendente — disse o arqueólogo da “National Geographic” Fredrik Hiebert, em entrevista à Associated Press.
De acordo com a crença cristã, o corpo de Jesus Cristo foi colocado numa “cama funerária”, algo como uma prateleira escavada na parede lateral de uma caverna calcária, após a sua crucificação pelos romanos, por volta do ano 30 ou 33 d.C. De acordo com a tradição, um grupo de mulheres foi ungir o corpo três dias após o enterro, e o corpo não estava mais lá, pois Jesus havia ressuscitado.
Dados históricos indicam que o local está selado pelas placas de mármore pelo menos desde 1.555, mas provavelmente o revestimento foi colocado séculos antes.
Foto mostra o momento quando a placa de mármore foi removida – Dusan Vranic / AP
— A cobertura de mármore foi puxada para trás, e nós fomos surpreendidos pela quantidade de material de preenchimento abaixo dela — disse Hiebert. — Será uma longa análise científica, mas finalmente seremos capazes de ver a superfície de pedra original onde, segundo a tradição, o corpo de Cristo foi colocado.
Abaixo do material de preenchimento, os cientistas revelaram algo inesperado: outra placa de mármore. Segundo Hiebert, esta segunda laje, cinza e com a gravura de uma pequena cruz, deve ter sido colocada no século XII. A peça está rachada ao meio e possui uma camada esbranquiçada na parte de baixo.
— Eu não acredito que seja a rocha original — disse Hiebert. — Nós ainda temos mais trabalho a fazer.
Os trabalhos de restauração estão sendo realizados na pequena estrutura localizada no centro da Basílica do Santo Sepulcro, conhecida como Edícula da Tumba, reformada pela última vez em 1810, após um incêndio dois anos antes. Trata-se do local mais sagrado do cristianismo. No século II, o imperador romano Adriano ordenou que o local, indicado como a sepultura de Jesus, fosse aterrado e nele fosse construído um templo dedicado a Vênus.
Foto mostra a entrada da Edícula da Tumba na Basílica do Santo Sepúlcro – THOMAS COEX / AFP
Dois séculos depois, o imperador Constantino decretou o fim da perseguição contra os cristãos e, em 326, sua mãe, Helena, visitou Jerusalém para encontrar os locais associados aos últimos dias de Jesus, e identificou o local da crucificação e a tumba, onde foi construída uma igreja substituindo o templo de Adriano. Ao longo dos séculos, ela foi destruída e reconstruída diversas vezes, até o século XIV, quando ela passou a ser administrada por monges católicos e ortodoxos.
— Nós estamos num momento crítico para reabilitação da Edícula — disse Antonia Moropoulou, que lidera o time de cientistas da National Technical University que está restaurando a estrutura, em entrevista à “National Geographic”. — As técnicas que estamos usando para documentar este momento único vão permitir ao mundo estudar nossas descobertas como se eles estivessem na tumba de Cristo.
As comunidades cristãs responsáveis pela basílica deram aos pesquisadores um período de apenas 60 horas para escavações na parte interna da Edícula. Depois disso, a equipe de restauração terá que selar firmemente o núcleo do túmulo antes dos trabalhos de reforço, para evitar que materiais se infiltrem na tumba considerada sagrada.
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